sábado, setembro 11, 2004

Reabrindo... pra pensar...

"NEM PERFEITOS, NEM IMPERFEITOS. NOSSOS PAIS SÃO COMO A GENTE.

Uma das coisas difíceis de nos tornarmos adultos é perceber os defeitos dos nossos pais. Olhamos em volta e vemos que ninguém é perfeito, todo mundo vacila, inclusive nós, inclusive eles.

Durante a infância queremos, exigimos até, que eles sejam completos. Brigamos diante de suas fraquezas, temos vergonha de suas roupas, suas maneiras de ser, porque de alguma forma temos a ilusão de que, com pais impecáveis, estaremos perfeitamente protegidos. Daí a gente cresce e se dá conta de que a vida é com a gente mesmo. Quando a coisa aperta, não tem para onde fugir, estamos sós e, por mais que abraços amigos e cafunés ajudem, quando a bola vier, temos que matar no peito e chutar pro gol.

Antes de vermos nossos pais como meros seres humanos, lindos e ridículos como todos os outros, passamos por uma fase em que queremos trancá-los dentro do congelador para que ninguém saiba que existem. Ou, pelo menos, que não descubram nenhuma ligação conosco.

Quando eu tinha uns 13 anos meu pai foi me pegar, mais uns amigos e amigas, numa festa. Chegou com uma namorada, ouvindo uma fita dos Beatles e cantando, com seu inglês ma-ra-vi-lho-so, todas as músicas. Naquela hora eu não queria trancá-lo no congelador: eu é que adoraria caber no porta-luvas. Hoje, no entanto, penso: que bom ter um pai que canta Beatles no carro.

Contei essa história para a Laura, minha amiga, e ela disse: "Ah, você acha que cantar Beatles é ridículo? Uma vez eu estava saindo da escola. Abriu o portão, apareceram aqueles pais e mães todos bem vestidos e, no meio, vejo um cara de sunga bege. Descalço, só de sunga bege e com a minha irmã de cavalinho, no ombro. Meu pai. Fugi pela saída dos fundos..."

Acho que, numa fase, temos vergonha dos pais por dois motivos. Primeiro, porque estamos saindo da infância, nos achamos os reis da cocada preta e queremos fingir que somos totalmente independentes: ninguém comprou nossas roupas, ninguém tem nada a ver com a nossa vida. Hum, hum, sei... Segundo, porque temos a terrível ilusão da perfeição. Achamos que é possível usar a roupa certa, falar a coisa certa, na hora certa, para a pessoa certa e, no fim, vamos convencer os outros (e a nós mesmos) de que somos legais. Mas justo quando estamos no meio dessa luta, quase atingindo a perfeição, vem uma pessoa de pochete em nossa direção, com o celular preso ao cinto, apertar nossa bochecha e nos chama por um apelido ridículo?! Que sacanagem!

Uma das coisas boas de nos tornarmos adultos é aceitarmos os defeitos dos nossos pais. Olhamos em volta e vemos que ninguém é perfeito, todo mundo vacila, inclusive nós, inclusive eles, e tudo bem. Somos todos meros seres humanos, lindos e ridículos como todos os outros."

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