segunda-feira, abril 18, 2005
Só um milagre
O prefeito se queixa do ex-prefeito, o presidente se queixa do ex-presidente, o ex-presidente se queixa do ex-ditador, o ex-ditador se queixa do imperador, que bota as barbas de molho.
Os pobres se queixam da concentração de renda, os ricos se queixam da distribuição de renda.
O educador se queixa das condições de trabalho.
A grávida se queixa da urgência dos homens.
O jovem se queixa da falta de oportunidades.
O médico se queixa da falta de saneamento básico.
Os ladrões se queixam da merreca e batem nas vítimas.
O aposentado se queixa das filas, do preço dos remédios, do banco, do SUS, de dores.
O político fora do poder acha que está tudo errado.
O torcedor se queixa do camisa 9.
Os comerciantes se queixam dos cheques sem fundos, o consumidor se queixa da qualidade, os empresários reclamam dos juros e dos impostos.
Fazendeiros se queixam das invasões dos sem-terra, índios se queixam das invasões dos fazendeiros grileiros, sem-terra se queixam da lentidão dos assentamentos.
Todos se queixam da violência urbana.
Os cidadãos sem segurança particular se queixam dos perigos nas esquinas, nos carros, nos ônibus, nas casas.
Os presos se queixam das cadeias e tacam fogo nos colchões.
Os torturados exibem equimoses e clamam por justiça.
Os assaltados e os assaltáveis se queixam dos direitos humanos.
O desempregado se queixa da humilhação de implorar e o empregado teme o desemprego.
Os telespectadores se queixam das baixarias.
Os compradores de apartamentos em construção se queixam das obras paradas.
O segurador se queixa do convênio médico.
O doente pobre se queixa do atendimento nos hospitais.
O motorista urbano reclama do trânsito e dos motoboys.
A esposa se queixa de dor de cabeça.
Todos se queixam das telefônicas.
Cada um dos três poderes se queixa do outro.
Exportadores se queixam da queda do dólar.
O povo se queixa dos políticos.
O governo se queixa dos políticos.
Os políticos se queixam dos políticos.
O noivo se queixa do sapato apertado.
O dono do carro novo se queixa dos preços da oficina autorizada.
A indústria cultural se queixa da pirataria, da internet, do contrabando.
Artistas se queixam dos esquemas fechados da indústria cultural.
Todo mundo reclama dos impostos.
A população se queixa dos milhões de aproveitadores e crias que mamam nas tetas do governo há várias décadas.
Formandos de todas as profissões se queixam da falta de vagas.
O Ministério da Saúde adverte.
O dono do muro reclama dos pichadores e do seu nefasto divertimento.
Os motorista de automóveis se queixam dos motoristas de caminhão.
Os motoristas de caminhão se queixam das estradas, dos buracos, das curvas, das pontes, da concussão policial.
Os ricos reclamam do atendimento em qualquer balcão e dizem que no Primeiro Mundo não é assim, não.
Os pais de alunos se queixam da ganância das escolas.
E esperam todos que Deus resolva os seus problemas.
Nesta altura, resta ao cronista recorrer ao final do poema Romaria, de Carlos Drummond de Andrade:
"Jesus já cansado de tanto pedido
Dorme sonhando com outra humanidade".
Os pobres se queixam da concentração de renda, os ricos se queixam da distribuição de renda.
O educador se queixa das condições de trabalho.
A grávida se queixa da urgência dos homens.
O jovem se queixa da falta de oportunidades.
O médico se queixa da falta de saneamento básico.
Os ladrões se queixam da merreca e batem nas vítimas.
O aposentado se queixa das filas, do preço dos remédios, do banco, do SUS, de dores.
O político fora do poder acha que está tudo errado.
O torcedor se queixa do camisa 9.
Os comerciantes se queixam dos cheques sem fundos, o consumidor se queixa da qualidade, os empresários reclamam dos juros e dos impostos.
Fazendeiros se queixam das invasões dos sem-terra, índios se queixam das invasões dos fazendeiros grileiros, sem-terra se queixam da lentidão dos assentamentos.
Todos se queixam da violência urbana.
Os cidadãos sem segurança particular se queixam dos perigos nas esquinas, nos carros, nos ônibus, nas casas.
Os presos se queixam das cadeias e tacam fogo nos colchões.
Os torturados exibem equimoses e clamam por justiça.
Os assaltados e os assaltáveis se queixam dos direitos humanos.
O desempregado se queixa da humilhação de implorar e o empregado teme o desemprego.
Os telespectadores se queixam das baixarias.
Os compradores de apartamentos em construção se queixam das obras paradas.
O segurador se queixa do convênio médico.
O doente pobre se queixa do atendimento nos hospitais.
O motorista urbano reclama do trânsito e dos motoboys.
A esposa se queixa de dor de cabeça.
Todos se queixam das telefônicas.
Cada um dos três poderes se queixa do outro.
Exportadores se queixam da queda do dólar.
O povo se queixa dos políticos.
O governo se queixa dos políticos.
Os políticos se queixam dos políticos.
O noivo se queixa do sapato apertado.
O dono do carro novo se queixa dos preços da oficina autorizada.
A indústria cultural se queixa da pirataria, da internet, do contrabando.
Artistas se queixam dos esquemas fechados da indústria cultural.
Todo mundo reclama dos impostos.
A população se queixa dos milhões de aproveitadores e crias que mamam nas tetas do governo há várias décadas.
Formandos de todas as profissões se queixam da falta de vagas.
O Ministério da Saúde adverte.
O dono do muro reclama dos pichadores e do seu nefasto divertimento.
Os motorista de automóveis se queixam dos motoristas de caminhão.
Os motoristas de caminhão se queixam das estradas, dos buracos, das curvas, das pontes, da concussão policial.
Os ricos reclamam do atendimento em qualquer balcão e dizem que no Primeiro Mundo não é assim, não.
Os pais de alunos se queixam da ganância das escolas.
E esperam todos que Deus resolva os seus problemas.
Nesta altura, resta ao cronista recorrer ao final do poema Romaria, de Carlos Drummond de Andrade:
"Jesus já cansado de tanto pedido
Dorme sonhando com outra humanidade".