terça-feira, abril 12, 2005

Te cuida

Esta coluna que eu posto hoje é de uma escritora que eu gosto muito. Tirei do Almas Gêmeas do Terra, página pra qual ela escreveu por 6 anos. É antiga, mas no último feriado eu e algumas amigas discutimos como ela é verdadeira e esta expressão (mais usada no sul do que aqui) pode significar diversas coisas e sempre a interpretamos como queremos.
Pra mim ela é especial porque simboliza o fechamento de um ciclo. Os "Te cuida" mais marcantes em minha vida eu disse ou ouvi em despedidas de relacionamentos e sempre significava: "Te cuida, fica bem, toque a vida, torço por ti, mas longe de mim...". Um "Te cuida" despreocupado é o ponto final mais bem dado e consolador que eu já tive.

Te cuida

(Martha Medeiros)

A gente sai de casa para ir numa festa ou para pegar a estrada, e antes que a porta atrás de nós se feche, ouvimos a voz deles, pai e mãe: te cuida. A recomendação sai no automático: tchau, te cuida. Um lembrete amoroso: te cuida, meu filho. A vida anda violenta, mas a gente não dá a mínima para este "te cuida" que a gente ouve desde o primeiro passeio do colégio, desde o primeiro banho de piscina na casa de amigos, desde a primeira vez que saímos a pé sozinhos. Pai e mãe são os reis do "te cuida", e a gente mal registra, tão acostumados estamos com estes que não fazem outra coisa a não ser querer nosso bem e nos amar para todo sempre, amém.
No entanto, lembro da primeira vez em que estava apaixonada, me despedindo dentro do carro, entre beijos mais do que bons, com aquele que devia ser um moleque mas para mim era um homem, e um homem estranho, uma vez que não era pai, irmão, primo, amigo ou colega. Depois do último beijo, abri a porta do carro e, antes de sair, ouvi ele dizer com uma voz grave e sedutora: te cuida.
Me cuidarei, pode deixar. Me cuidarei para estar inteira amanhã de novo, para te ver de novo, te beijar de novo. Me cuidarei para me tocares com suavidade, para nunca encontrares um arranhão sobre a minha pele. E cuidarei do meu humor, dos meus cabelos, cuidarei para não perder a hora, cuidarei para não me apaixonar por outro, cuidarei para não te esquecer, vou me cuidar.
Me cuidarei ao atravessar a rua, me cuidarei para não pegar um resfriado, me cuidarei para não ficar doente. Me cuidarei, meu amor, enquanto estiver longe dos teus olhos, nos momentos em que você não pode cuidar de mim.
Fica a meu encargo voltar pra você do mesmo jeito que você me viu hoje. É de minha responsabilidade não ficar triste, não deixar ninguém me magoar, não deixar que nada de ruim me aconteça porque você me ama e não agüentaria. Claro que me cuido, nem precisava pedir.
Te cuida, dissera ele. E eu ouvi como se fosse um te amo.
Meses depois, terminado o namoro sem beijos de despedida, saio do carro trancando o choro, ainda que o rompimento tenha sido resolvido de comum acordo. Abro a porta e já estou com uma perna pra fora quando ouço, sem nenhuma aflição por mim, apenas consciência de que não teríamos mais notícias um do outro: te cuida. Me cuidei. Só chorei quando já estava dentro do elevador.

Ps: Além das colunas antigas no Almas Gêmeas do Terra, ela é colunista da Zero Hora e do Globo. Dos seus livros eu já li "Divã" é ótimo, recomendo.

Comments:
Pois eh...
Um post bem propicio para mim, agora...
VOu tentar me cuidar...

Por favor, aonde fica o elevador?
 
OK!!! Eu deveria ter me cuidado mesmo... mas meramente pra não ficar doente, por mim mesma!!!!!!
 
Bina, este post é muito a sua cara...
 
Qual é a frase que eu mais ouço de você, Bina?
É um tipo mãe, assim: "Te cuida Mac!". Me cuidarei (das mais diversas maneiras)...


...ou não.
 
Nossa Mac, eu nem tinha percebido que eu usava tanto essa expressão, mas é verdade! hehehe :)
 
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